MG:
Aproveito a oportunidade do blog e do VNP, para partilhar convosco um texto que foi escrito à algum tempo, e que é uma parte da minha vida.
Porque resolvi partilhar? Bem porque o dia de hoje faz-me acreditar que há esperança e consequentemente as mudanças hão-de surgir. Na altura que o escrevi senti-me muito sozinho, sem informação, mas quero revelar este texto, para que outros não pensem como eu, não pensem que são os unicos a ter este problema.
A angústia perseguia-me já a algum tempo; saber ou não se estava “doente”.A verdade é que tinha tido práticas sem cuidado e isso ainda me aterrorizava mais.
Fiz uma pesquisa na net e soube que poderia fazer o teste anónimo e gratuito num CAD. Combinei com uma amiga que iríamos fazer o teste juntos, o que acabou por não se concretizar por desencontro de tempo. Continuava com a mesma angustia e incerteza e resolvi faze-lo sozinho.
Nunca tinha feito um teste, estava confiante mas queria ter a certeza de que tudo estava bem e que “ as relações sem cuidado”, não me tinham afectado e que apartir daquele susto iria ter mais consciência.
Entre enfermeira e psicóloga, em pouco tempo tive uma resposta “não muito positiva”, tentei controlar-me e pensar “não pode ser”, “o laboratório, vai dizer que esta tudo bem, e o 1º teste foi engano”
Já ca fora, sentia a minha vida andar para trás; sabia que tinha o vírus e a esperança do resultado do laboratório ser diferente era cada vez mais nula.
Estava numa mistura de sentimentos, confuso por não saber como reagir, ter esperança ou cair na realidade; se continuar a fazer as orações e reflexões por um deus que não me desviou; raiva por ter sido descuidado.
Foi a pior altura da minha vida, apenas queria ouvir a voz daqueles que amava, sem que me fizessem perguntas, como se estivesse tudo normal. A minha mente traia-me e só pensava no mesmo; queria dizer a alguém “Socorro”, mas as palavras não saíam, apenas as lágrimas; essas impossíveis de controlar.
Tinha um dia de trabalho pela frente mas não consegui estava demasiado assombrado; e encarar esta minha nova realidade não estava a ser fácil.
Falei a 2 pessoas, uma familiar (mãe), e outra uma grande amiga de infância. A primeira por respeito e dever moral. Mãe é mãe, e apesar do pouco tempo que passamos juntos ela saberia que algo não estava certo. Lembro-me que ao telefone entre lágrimas, soluços e insistências para adiarmos e falar pessoalmente, de lhe pedir continuamente desculpa….desculpa.
Ela estava preocupada e isso era notório; eu não aguentava mais estar a esconder, adiar e acabei por revelar. Do outro lado ouvia-a “Não… Não… Não… Não pode ser, o meu filho”, ela estava acompanhada e ainda bem porque acabou por desmaiar com o choque.
A segunda foi porque sempre foi a minha conselheira e já estava completamente desesperado, sentia-me a cair num buraco sem fundo, onde pedia ajuda e ninguém me ouvia. Ela ficou chocada, nunca pensou ouvir da minha boca tal coisa; falamos pouco tempo comparado com o habitual e ficou de me ligar depois.
Nessa noite, senti-me como que atropelado por um camião sem tamanho à vista.
Agarrado ao computador, ás fotos da família, chorava e passava a mão na face das pessoas que me eram queridas e pedia desculpa.
Falei com a direcção do trabalho dizendo uma desculpa e fiz as trocas necessárias para que no dia seguinte pudesse estar no colo e amparo da minha mãe.
Nada fazia sentido, as minhas orações para que houvesse um mundo melhor, as reflexões para que fosse sempre um homem justo. Sempre acreditei; ou tinha necessidade de acreditar que havia algo superior a que uns chamam Deus, Ala, Buda, Cristo, Jesus ou outra coisa qualquer que é o mesmo; mas era um “Deus”que era compreensível, justo e cheio de amor, e que o sofrimento seria para quem fazia o mal.
As conversas com as 3pessoas (mãe, amiga e psicóloga), que sabiam do problema eram fundamentais e eu tentava amenizar o problema. “Não és o único, e podes ter uma vida mais ou menos normal; até ter filhos, basta uma lavagem ao esperma; podes ate ter relações desde que uses o preservativo para não te prejudicares a ti nem aos outros”, “Qual é o problema? Não está escrito na testa”. A verdade é que não se vê, mas sente-se corroendo-nos.
Um mês depois…
A minha amiga tem sido incansável na procura na net de artigos que falem sobre isso… ao fim ao cabo de respostas.
A minha mãe, quer sempre ir comigo as consultas; talvez para que eu saiba que me apoia; ela foi-se muito abaixo e acho que na mente dela eu estou a morrer. A ultima vez que estive com ela era eu a dar-lhe apoio e não o contrario.
Em relação a mim, tenho aguentado dentro dos possíveis e com algumas alterações; o sorriso cada vez mais difícil de sair, uso sempre uma peça de roupa preta; a nível emocional será sempre o mais complicado não me estou a ver ter uma relação sem que antes esteja tudo esclarecido, o que é necessário falar abertamente, o que também não me estou a ver falar.
Parece que á minha volta se levantaram muros e se taparam as portas
Enfim…. O emocional vai ter muito que esperar; a verdade é que já consegui guardar emoções e sentimentos amorosos; mas sinto-me vazio, como me faltasse qualquer coisa, como se houvesse cabeça, tronco (vazio e sem coração), e membros. Alguém vazio, alguém que deixa o mundo andar à roda no sentido contrario sem nada poder fazer.
Sinceramente tenho medo deste vazio e do que o futuro me reserva.
Neste momento sinto que perdi parte da alegria, do sorriso. Só me resta a esperança por muito pequena que seja.
Sempre pensei, estou num inicio portanto não vou precisar de medicamentos e assim vou conseguir digerir/aceitar melhor.
E ai estou eu, com medicamentos para justificar (caso alguém pergunte porque tenho que tomar todos os dias), um assunto por resolver (a aceitação), e um assunto também muito pendente (o amor).